Por uma educação sem reboques: chega de fronteiras!
O dia estava quente. As montanhas anunciavam a boa nova. O silêncio das ruas apenas me atormentava.
A quantidade de pensamentos durante os minutos que supri com meus olhares aos arrondissements da cidade universitária de Flagstaff, noroeste do Arizona, Estados Unidos, não só mostrava a capacidade de nós, seres humanos mudarmos nossa realidade no permear de poucas horas, mas também de nos transpormos geograficamente de volta ao nosso estado inicial.
Tudo isso em realidade é, para dizer que, sim, sabemos de onde partimos, nos deslumbramos com o que vemos no além-mar, mas precisamos saber para onde estamos voltando. Ao lar. E o lar é o Brasil.
Nos 12 dias que me vi ali, fora de meu país, já não me senti mais uma estrangeira. Senti-me deveras parte do mundo. Maior ainda foi à sensação de que, após viajar 15 horas de avião e mais 3 horas pela famosa Rota 66, encontraria em uma cidade conhecida por abrigar os aventureiros rumo ao Gran Canyon, não apenas estes, mas também um grupo entusiasmado de jovens brasileiros dispostos a passar ali 18 meses longe de suas famílias em nome do estudo e do aprendizado.
A música do Deep Forest, the Beauty in Your Eyes, a beleza em seus olhos, retrata muito bem o brilho que muitos brasileiros ao me conhecerem, lançavam quando eu dizia: “Não, não, estou aqui apenas por alguns dias”. O suspiro deles não era porque eu não era parte do Programa Ciências sem Fronteiras. O suspiro era porque eles não iriam embarcar de volta junto comigo ao Brasil. A jovem Gabriele, estudante de ciências tecnológicas, me comenta: “Bárbara, mande um abraço em minha mãe. Sinto muito a falta dela!”.
Com toda certeza, ultrapassar a barreira da língua (pois estes guerreiros brasileiros passarão um semestre sob os olhos do programa de Inglês Intensivo da Universidade), ultrapassar a distância geográfica de seus laços de afeto e ultrapassar a linha tênue entre estudar e se culturalizar só me leva a uma conclusão: estas pessoas são contempladas não só por uma bolsa de estudos e sim por uma infinita sensação de ter a alma tocada por algo novo, por um entusiasmo que não passa, por uma capacidade de distinguir o que é majestoso e o que é simples.
O que é majestoso é a essência de cada lugar. E o que é simples é a necessidade de enxergarmos que não queremos mais fronteiras para nossa educação. Queremos uma memória impossível de esquecer: uma cultura educacional.
Se você for capaz de escutar o silêncio. Entenderá a origem dos versos. Avante Brasil!